Quando cheguei para morar na Espanha, depois de casada, conheci uma colega de trabalho brasileira que sempre falava com muita naturalidade que não ia ao Brasil há mais de 3 anos. Aquilo me provocava uma mistura de sensações que ainda hoje posso dizer que fazia sentir-me mal, muito mal…
Como alguém pode passar tanto tempo sem ver a família e sem férias no Brasil?
Muito fácil, é o que constatei depois de quase 10 anos! Tem ano que é por motivo de trabalho, outro porque falta grana mesmo e em outras, a gente meio que começa a perder a noção do tempo.
Até que enfim, minha família e eu fomos no Natal de 2017
A primeira vez que cruzei o Atlântico com meu filho Raul, ele era a bagagem de mão (colo) mais importante que eu tinha levado de cá para lá. Estava com um aninho recém cumprido e era pura festa a nossa viagem ao Brasil para que todos o conhecessem. Meu marido tinha ficado trabalhando e chegaria depois de 15 dias!
Um bebê hispano brasileiro chegando! Não andava e nem falava… E por falar em falar, esse é o motivo mais importante deste post: contar a evolução do bilinguismo e nossa experiência com o projeto Mininiños, criado pelos próprios protagonistas desta história.

Aline Navarro e o filho Raul em visita aos familiares no Brasil. Dezembro/2017
A primeira coisa que notei, foi a solidariedade do povo brasileiro ao ajudar com as malas e tudo que fosse relacionado ao «perrengue» de uma mãe louca viajando sozinha. Ô povo solidário, nós os brasileiros! Impressionante!
Depois foi a rápida mudança de comportamento do Raul, que sabia exatamente que estava fora do ninho dele. A língua era a principal inimiga naquele momento. Por mais que o português fosse a língua da mamãe, era tudo muito estranho que aquele montão de gente viesse apertar suas bochechas falando aquela língua.
Nunca gosto de desanimar nenhuma mãe brasileira que enfrenta esta batalha, mas sou humana e solidária o suficiente para admitir que não é fácil. A minha história ainda não terminou…
Estranheza total, até que sou salva pelo Rei…
O meu «mininiño» praticamente deixou de comer! Fiquei muito mal! Juntou a estranheza com a ausência do pai e aí… Socorro!
Eu notava que era a língua que o incomodava. Ele sempre foi um menino sociável, participativo, mas naquela situação faltava não só as palavras que ainda não controlava nem mesmo em espanhol; faltava a compreensão daquele mundo que ele tinha passado a viver da noite ao dia…
Até que na TV, no especial do Roberto Carlos, surge uma interpretação de canção em castelhano. O Raul incrívelmente olhou para a televisão, olhou para mim e parece que até que enfim se sentiu «em casa». Acreditam?
Da primeira viagem sem andar nem falar, à segunda onde o português desabrochou…
Depois daquela e outras experiências, eu me empenhei em formar um grupo de encontro onde as crianças falem e brinquem em português. Sem estranhezas! Surgiu o projeto Mininiños e todos os meses nos reunimos para alguma atividade: cineminha, rolê de bike, festas, oficinas… Hoje viramos um grupinho inseparável, um little Brasil!
Foi a melhor coisa que eu poderia ter feito pelo meu filho e por toda a minha família, porque apenas uma tia fala espanhol lá no Brasil! Privar nossos filhos de receberem essa herança é algo que independente da situação ou dificuldade que tenhamos, não devemos desistir jamais!
Nesta ida ao Brasil o Raul soltou o verbo! Deixou de ser o falante passivo, que mamãe fala em português e ele responde em espanhol, para falar e tentar falar tudo para poder comunicar-se e brincar!
Antes da nossa ida, já estava amarradão na Turma da Mônica e fomos visitar o parque! Ele pirou! E a gente também, claro!
Trasmitir o significado dos personagens e suas histórias é algo tão nosso, tão brasileiro, que somente dando a oportunidade de dividir isso com nossos filhos nos fará sentir completas.
Ver os priminhos fazendo mímica para comunicar-se e no final, uma ou outra palavra de castelhano sendo aprendida pelos demais, é demais!

Primos da família Navarro comunicando-se em português e espanhol.

Vale mímica e fazer sons para ser entendido. O que não vale é não falar!
E para finalizar esse post, com o motivo mais importante: que os avós possam se comunicar! Possa pedir «a bença, vô» e que os avós respondam: Deus te abençoe, meu filho!
Isso, somente uma viagem ao Brasil, pelo menos uma vez ao ano é capaz de fazer por nós: matar a saudade da terra da gente e ajudar nossos filhos a terem contato com nossa cultura estando na Espanha ou no Brasil. Sabemos que é difícil, mas devemos priorizar!
Como experiência própria, sei que todas as atividades e amizades que criamos em Valência têm contribuído muito para a formação do Raul.
Eu quero que ele sempre diga que ele é espanhol e brasileiro. Não quero que meu filho seja o gringo da turma!
E você? O que tem feito pelo desenvolvimento do bilinguismo na sua família?
Nunca é tarde para começar, nunca é tempo demais para voltar!
Até a próxima, gigante pela própria natureza! Prometo que não vou demorar mais 3 anos!
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